O ESPORTE E O ENTRETENIMENTO…(A GUERRA DOS TRAJES “HI-TECH”)

Não é de hoje que o Esporte e o Entretenimento caminham juntos. Aliás, faz um tempinho já. Seguramente mais de 30 anos!

O público não quer apenas ver seu amigo, parente, time ou País ganhar. Ele quer ver show! Quer divertir-se! IMPRESSIONAR-SE!

Isso mesmo, o que o espectador quer é ficar de “queixo caído”! Seja por um ponto de saque de 300Km/h no tênis, uma enterrada partindo da linha do lance livre no basquete, um gol do meio de campo no futebol, um golpe fantástico e perfeito no judô, um saque viagem de perder a bola de vista no vôlei, um salto de 9 metros no atletismo, ou um recorde mundial sendo “destroçado” na natação!

As pessoas que vão a uma competição esportiva querem ver o sobre-humano, o quase impossível. Elas querem ver SUPER-HÉRIOS!

E é por isso que o esporte evolui. As vezes de formas positivas, outras vezes nem tanto. De vez em quando o esporte muda para ficar mais dinâmico, como no caso do voleibol. Vocês lembram quando havia “vantagem”? E o jogo tinha 3 sets de 15 pontos? Pois então, a regra foi modificada para atender o público e a televisão. O jogo agora, fica mais “atrativo”, tem ponto toda bola!

Mas, voltando para a nossa “praia”: vocês recordam-se como era a virada de costas há algum tempo atrás? Muitos que lêem esse blog já nasceram na era nova, onde não é mais necessário tocar a parede antes de realizar a virada. Mas nem sempre foi assim. Isso mesmo! Até a década de 80 o atleta precisava tocar a parede para poder fazer a virada do nado de costas.

E você acham que essa mudança ocorreu por qual motivo?! Para ficar um nado mais “bonitinho”? Não! Obviamente para que os tempos fossem melhorados e os recordes fossem quebrados. Pois quem vai a um Campeonato Mundial de Natação como espectador quer mais é ver recorde mundial sendo quebrado. Não é verdade?! Até nós, atletas “profissionais” desse esporte queremos isso (a não ser quando é a nossa prova e o nosso adversário está na piscina…).

Mas toda essa introdução foi para demonstrar que mesmo que eu não concorde com essa “avalanche” de novos trajes que infringem a regra da natação, eles estão aí com essa finalidade, e não há nada, ou muito pouco, que possamos fazer. Infelizmente teremos que conformar-nos e adaptar-nos ao novo.

Eles (os trajes) apareceram para que os atletas quebrassem recordes mundiais. Para promover o entretenimento. Para que o sobre-humano torne-se cada vez mais “sobre” e cada vez menos “humano”. Essa foi a 1a intenção das empresas. Mesmo porque recordes mundiais quebrados é igual a GRANA! MUITA GRANA!

O pior é que, uma vez aprovado pela FINA, e utilizado nos Jogos Olímpicos, não existe mais volta! Os trajes NUNCA mais serão proibidos! Podem até, TALVEZ, alguns novos trajes serem vetados. Mas esses que já estão no mercado e que foram utilizados em Beijin não tem outra solução! Já fazem parte, infelizmente, do “futuro” da natação.

Assim como os trajes, a melhoria na construção de piscinas (com cada vez menos marolas), a mudança da regra para permitir golfinhada no peito, mudança de cloro para ozônio no tratamento da água, toucas mais finas e apertadas, placares eletrônicos mais exatos e sensíveis, enfim, tudo isso é o “futuro” da natação. É o caminho a ser seguido para que os recordes mundiais não durem mais do que 1 (um) ano, como víamos “antigamente”. E volto a afirmar, não digo que sou a favor, apenas digo que é o caminho natural do esporte “profissional”.

Contudo, essa é uma guerra que não podemos lutar….já está perdida! Temos que focar e brigar na proibição dos trajes para as crianças, na proibição da utilização de 2 trajes, na proibição dos novos trajes que cada vez mais infringem a regra e a ética da natação! Essa sim é uma batalha nova! Uma que podemos e devemos lutar!

O dinheiro não deveria ser fator para definir campeões…mas infelizmente é. E com os trajes cada vez mais tecnológicos e caros, esse fator dinheiro tem mais peso. Mas em uma mesma via, sem dinheiro não há mídia, não há divulgação, não há clubes investindo em atletas e em categorias de base…nada é tão simples quanto parece…

Apenas para finalizar: O foco é grande na natação pois o limite do homem é desconhecido. Justamente por sermos mamíferos excepcionalmente terrestres, não sabemos o quão rápido podemos ir dentro da água, diferentemente do atletismo, mais precisamente os 100 metros rasos onde o limite está próximo…

Por isso que eu eu vejo algo positivo nisso tudo: A natação teoricamente tem mais mercado para o “merchandise”, os patrocinadores, a mídia…tudo isso envolve sim dinheiro…mas envolve a divulgação do desporto ao mundo inteiro…nascimento de novas estrelas, novos campeões, novos ídolos…

Reflitam…temos que lutar para o prognóstico não piorar, e acreditem: “Nada está tão ruim que não possa piorar”! (já dizia um ex-nadador e amigo meu).

UM ABRAÇO!

FISCHER.

About Eduardo Fischer

Eduardo Fischer é catarinense e natural de Joinville. Ex-Atleta Olímpico de natação da seleção brasileira e medalha de bronze no Mundial de Moscou, Fischer defendeu o país em dois Jogos Olímpicos (Sydney/2000 e Atenas/2004), 6 Campeonatos Mundiais e 1 Pan-Americano (Prata e Bronze). Bacharel em Direito e Advogado pela OAB/SC, Eduardo é especialista em Direito Empresarial pela PUC/PR e em Direito Tributário pela LFG/SP. Atualmente aposentado das piscinas, trabalha com Consultoria Tributária em um respeitado escritório de Advocacia (CMMR Advogados).

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